Halloween no Brasil: faz sentido para as famílias?
- Renata Cristina Tutumi
- 31 de out.
- 4 min de leitura
Estamos celebrando algo com significado ou apenas repetindo o Halloween, uma festa que não nos pertence?
Há alguns anos o Halloween passou a fazer parte do nosso calendário de festas, mas será que essa celebração realmente faz sentido para nós, brasileiros?
Quando eu era criança, ouvia falar no tal “Dia das Bruxas” e sabia apenas que, nos Estados Unidos, as crianças saíam fantasiadas em busca de doces.
Hoje, como mãe, vejo o Halloween ganhar proporções bem maiores: fantasias elaboradas, festas em condomínios, distribuição de doces em massa… e depois, claro, o desafio de administrar o açúcar e a excitação que sobram.
1. Uma breve “mini-história” da data
A origem da Halloween remonta ao festival celta Samhain, celebrado há cerca de 2.000 anos na Irlanda, Escócia e regiões próximas: marcava o fim do verão, o início do “inverno escuro”, e era entendido como um momento no qual o limiar entre vivos e mortos ficava mais tênue.
No século VIII, com a cristianização, o dia 1º de novembro foi instituído como Dia de Todos os Santos, e a noite anterior ficou conhecida como “All Hallows Eve” - daí “Halloween”.
Nos Estados Unidos, por meio da imigração irlandesa e da cultura popular, o Halloween ganhou os contornos que conhecemos hoje: fantasias, “trick-or-treat”, abóboras esculpidas etc.
2. E aqui no Brasil, o que acontece?
No Brasil, a celebração de Halloween é relativamente recente, em grande parte impulsionada por filmes, TV, mídias sociais e pelo mercado comercial.
Muitas escolas e condomínios em grandes cidades, como São Paulo, promovem festas de fantasia ou algum tipo de “doces ou travessuras” interno, mas não é comumente a brincadeira de sair de casa em casa pedindo doces, como nos EUA.
O dia 31 de outubro coincidentemente é também o Dia do Saci, voltado para valorizar o folclore brasileiro, em especial a figura de Saci‑Pererê. A ideia é que haja uma “resistência pacífica” ao modelo americano de Halloween.
Por outro lado, há críticas de que a data “importada” ocupa espaço de práticas culturais mais genuinamente brasileiras.
3. Pais e mães na primeira infância: o que observar?
Como educadora e mãe, vejo esse como um momento importante para reflexão, especialmente considerando os valores que queremos transmitir aos nossos filhos e como celebramos juntos.
a) Significado e coerência cultural
Para nós que vivemos no hemisfério Sul, o “fim do verão/chegada do frio” como origem de Halloween não “casa” exatamente. Aqui estamos indo em direção ao verão. A simbologia original perde parte da força local fantasiar-se para afugentar o inverno e a escuridão, sendo que para nós estamos iniciando o calor.
Isso nos traz a questão: qual sentido a celebração tem em nossa realidade? Se é basicamente “festa, fantasia, doces”, tudo bem, mas se quisermos uma conexão mais profunda (com valores, com cultura), talvez tenhamos que ressignificar.
b) Aspecto de brincadeira vs. consumismo e açúcar
Quando há crianças de pequenas envolvidas, celebramos pela brincadeira, fantasia, alegria, mas há sempre o cuidado com o excesso de doces, estímulos e barulho. Pode haver tensão: “vamos sair pedindo doces, depois lidar com o açúcar, depois lidar com a ansiedade da criança…”.
Precisamos dosar os desejos das crianças de brincar, se fantasiar, comer doces e as necessidades dos pais de limite, segurança e significado.
c) Aproveitar para valorizar a consciência emocional
Que tal fazer da data, além festa, um momento para conectar fantasia, imaginação, conversas sobre medo/brincadeira, limite, cuidado.
O medo é um tema frequente de preocupação de pais e criança, e essa é uma oportunidade única para conversar sobre isso.
Use a fantasia como ponte para falar sobre “o que me assusta”, “o que te dá medo”, “como faço para me sintir seguro”, “quem eu sou quando me visto de bruxa ou de herói”.
Afinal, Halloween para nós, vale ou não vale?

Eu diria que sim, vale se adotarmos com consciência:
- É uma oportunidade de brincar com as crianças, construir memórias afetivas;
- Pode ser um momento de fortalecer vínculo, conversar sobre emoções, medos, fantasias;
- Pode ser adaptado à realidade brasileira, com significado próprio.
Mas não vale se:
- For apenas “importar” o modelo americano sem considerar nossa cultura, clima, realidades:
- Virar apenas consumo, exagero, sem reflexão ou vínculo;
- Gerar dissonância entre o que os pais querem (equilíbrio, sentido) e o que a criança experimenta (excesso, confusão).
5. Sugestões práticas para os pais:
Combine limite de doces: antes da festa, pergunte à criança: “quantos docinhos vamos pegar? depois vamos escolher juntos quantos vamos comer e guardar o restante para outro dia”.
Converse sobre medos e fantasias: aproveite a fantasia para perguntar: “o que te dá medo? e o que te faz sentir corajosa?”.
Momentos em família: ao invés de sair necessariamente na rua (se não for seguro ou confortável), talvez montar atividade em casa ou no condomínio com outras famílias, com decoração leve, música, contação de história ou cinema infantil temática.
E você, comemora o Halloween com as suas crianças?










Comentários